- Nota: Se procura pela língua da família linguística aruaque, falada pelos Enáuenês-nauês, veja Língua enáuenê-nauê.
Os Enawenê-nawê falam a língua de mesmo nome, da família aruaque e similar à língua falada pelo povo Paresi.[5] Por meio da Operação Amazônia Nativa (OPAN), eles chegaram a ser alfabetizados em sua língua materna, até que em 2009, solicitaram a alfabetização em língua portuguesa e a formação de agentes de saúde.[2]
A terra indígena dos Enawenê-nawê localiza-se entre os municípios de Juína, Comodoro e Sapezal, na região noroeste do estado de Mato Grosso, no vale de um afluente do Tapajós, o rio Juruena. Juína é o centro urbano mais próximo. A partir de lá, chega-se à aldeia percorrendo-se 60 quilômetros de estrada de terra e 200 quilômetros de barco.[2]
A partir da década de 1980, suas aldeias passaram a se concentrar nos arredores do rio Iquê, cujas nascentes chegam até a cidade de Vilhena, em Rondônia, e faz parte da bacia do Juruena. Os rios que fazem parte do território pertencem à bacia do Juruena, com exceção do rio Aripuanã, que nasce naquela terra indígena e compõe a bacia do Madeira. Seus limites estendem-se do Doze de Outubro e Camararé ao sudoeste, às nascentes da sub-bacia do Aripuanã ao noroeste, as nascentes do Rio Preto e Juína Mirim ao norte e nordeste, e como limite sudeste o Papagaio e o próprio Alto Juruena em sua confluência com o Juína. Seus vizinhos mais próximos são os povos Menky, Nambikwara, Rikbaktsa, Iranxe e Cinta Larga. A região tem vegetação de transição entre cerrado efloresta equatorial.
A ocupação do vale do Juruena foi definida principalmente por três fatores: a guerra, a agricultura e a pesca. As fugas e ataques, e a busca pelo melhor aproveitamento das terras e das águas motivaram os deslocamentos em seu território, cuja ocupação estima-se em mais de 150 anos.[6]
Inicialmente, os Enawenê-nawê habitaram a região conhecida como Serra do Norte, na confluência das cabeceiras dos rios Aripuanã, Preto e Arimena, onde construíram dezenas de aldeias, barragens e acampamentos. Deslocaram-se de lá nos anos 1940, em resposta aos frequentes ataques dos Rikbaktsa e principalmente dos Cinta-Larga, mas nunca deixaram de frequentar o local, principal fonte dojenipapo (dana) utilizado para pintura corporal no ritual Iyaõkwa. Por isso, esta região é por eles denominada Danakwa (jenipapal).
É também um local de importância religiosa, considerado morada dos espíritos subterrâneos (yakairiti), a quem a tribo dedica a maior parte de seu ciclo anual de ritos.
Fugindo de seus inimigos, deslocaram-se para o sul, mas não conseguiram estabelecer-se nas margens do Juruena, ocupadas pelos mesmos povos que o atacavam ao norte. Nos anos 1950, chegaram às margens do Iquê, de onde expulsaram os Nambikwara e de onde foram novamente expulsos, alguns anos depois, pelos conhecidos Cinta-Larga. Continuaram deslocando-se pelo rio Camararé, até se estabelecerem nas proximidades de um pequeno afluente, o rio Primavera, dentro do território nambikwara. Lá permaneceram até os anos 1980, quando migraram de volta para o Iquê, onde permanecem até 2012.
A demarcação da terra indígena Enawenê Nawê excluiu áreas como a das cabeceiras do rio Preto, antes que estudos mais detalhados revelassem sua importância para aquele povo, e baseou-se nas informações disponíveis nos primeiros contatos, quando o povo encontrava-se em migração, ocupando território nambiquara, e sua utilização territorial encontrava-se bastante reduzida em função da ameaça inimiga. Somente após o fim dos ataques, o povo Enawenê Nawê retomou suas atividades e ritos tradicionais, e buscou reocupar os territórios originais. Por isso, a terra indígena demarcada encontra-se em processo de estudo para revisão de seus limites.
Os primeiros brancos a mencionarem a existência do povo Enawenê-nawê foram seringueiros que trabalhavam na região, e que reportaram a missionários jesuítas em 1962. Diziam eles que aquele povo tinha temperamento pacífico, pois não hostilizavam os trabalhadores, embora bloqueassem os córregos para impedir a passagem dos brancos às suas moradias.[7]
Em setembro de 1973, o grupo de missionários da Missão Anchieta da Operação Amazônia Nativa (OPAN) realizou um sobrevoo nas margens do alto rio Juruena, em território dos Nambikwara, onde observaram a existência de uma aldeia. No ano seguinte, os missionários retornaram acompanhados de índios Nambikwara para tentar estabelecer contato. No entanto, ao chegarem a uma pequena aldeia de caça, identificaram elementos que os distinguiam daquele povo: o hábito de dormirem em redes e a amarração de penas das flechas, bem ao estilo dos Rikbaktsa. Uma nova expedição foi planejada, desta vez com a companhia de índios Rikbaktsa. A equipe, coordenada pelos jesuítas Vicente Cañas e Tomáz de Aquino Lisboa,[3] chegou à aldeia, de onde os índios fugiram para a floresta. Um único índio, com deficiência fisíca, não conseguiu fugir. Os missionários e índios da expedição deitaram seus facões e machados aos pés do único índio no pátio da aldeia, em sinal de amizade. Identificaram que tratava-se de um povo da família Aruaque, pelo estilo das malocas, a casa das flautas e seu sotaque.[7]
O grupo deixou a aldeia e decidiu passar a noite nas proximidades e retornar à aldeia no dia seguinte. Entretanto, foram três índios locais, armados com arcos e flechas, que visitaram o acampamento pela manhã, e levaram os visitantes até a aldeia vazia, enquanto o restante da tribo escondia-se na floresta. Ofereceram-lhes alimento e trouxeram alguns outros índios locais para estabelecer contato, dando início à aproximação com os brancos.[7]
Naquela época, a Missão Anchieta revia seu tradicional método de atrair e civilizar populações indígenas a partir da educação. A aproximação com os Enawenê Nawê seguiu uma nova abordagem, com o objetivo de mantê-los isolados da sociedade e realizar aproximações mais lentas, com um mínimo de interferência e concentrando suas atividades no atendimento à saúde e na proteção do território. As enfermeiras que mais tarde viriam a trabalhar na aldeia chegaram a se instalar em casas comunais e aprender a língua local. Alguns poucos instrumentos de ferro foram introduzidos, como o facão, o anzol e o machado, mas procurou-se reduzir ao máximo a dependência de bens industrializados.[3]
Essa nova postura evitou o surgimento das epidemias comuns entre grupos indígenas após o contato, bem como seus efeitos deletérios. O que ocorreu foi um notável crescimento demográfico, aliado à manutenção do modo de vida tradicional, incluindo seus ritos e seu idioma.[3]
Durante os anos 1990, os contatos com os brancos se intensificaram, especialmente em virtude das tentativas de construção de estradas em seu território. Posteriormente, a instalação de hidroelétricas também impulsionou os contatos e pode ter influenciado sua recente decisão pela alfabetização em língua portuguesa.[2]
Na época dos primeiros contatos com os brancos, os Enawenê-nawê totalizavam cerca de 130 indivíduos. A população cresceu bastante de 1974 até a primeira década dos anos 2000, e nos últimos anos, o ritmo desse crescimento tem-se intensificado. Em meados de 1996, passados 22 anos dos primeiros contatos com os missionários, os Enawenê-nawê haviam dobrado sua população, reunindo 260 indivíduos. De 1992 a 2006, passaram de 216 para 435 indivíduos. A população dobrou em 22 anos e depois dobrou novamente em apenas 14 anos. O resultado é que o contingente populacional enawenê-nawê, em 2006, é bem mais jovem que nos anos 1970. As crianças (dinwá) somam quase dois terços da população, o que pode trazer reflexos na capacidade reprodutiva desse povo.[8]
- ↑ Enawenê-nawê (em português). Povos Indígenas no Brasil. Instituto Sócio-Ambiental. Página visitada em 9 de junho de 2012.
- ↑ a b c d FERNANDES, Sérgio Luiz (15 de junho de 2010). Etnia indígena de MT irá iniciar processo de alfabetização em língua portuguesa (em português). Mato Grosso. Secretaria de Educação. Página visitada em 9 de junho de 2012.
- ↑ a b c d Enawenê Nawê (em português). Arara. Página visitada em 9 de junho de 2012.
- ↑ LISBOA, Thomaz de Aquino (1985). Enawenê-nawê - Nome (em português). Povos Indígenas no Brasil. Instituto Sócio-Ambiental. Página visitada em 9 de junho de 2012.
- ↑ ZORTHÊA, Katia Silene (2006). Enawenê-nawê - Língua (em português). Povos Indígenas no Brasil. Instituto Sócio-Ambiental. Página visitada em 9 de junho de 2012.
- ↑ RODGERS, Ana Paula Lima (2010). Enawenê-nawê - Localização (em português). Povos Indígenas no Brasil. Instituto Sócio-Ambiental. Página visitada em 9 de junho de 2012.
- ↑ a b c LISBÔA, Thomaz de Aquino (1974). Enawenê-nawê - História do contato (em português). Povos Indígenas no Brasil. Instituto Sócio-Ambiental. Página visitada em 9 de junho de 2012.
- ↑ SILVA, Márcio (2006). Enawenê-nawê - População (em português). Povos Indígenas no Brasil. Instituto Sócio-Ambiental. Página visitada em 9 de junho de 2012.
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