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sábado, 9 de junho de 2012

Povo Enáuenê-nauê (história)


Os Enáuenês-nauês (ou Enawenê-nawê, no singular, como preferem osantropólogos), também chamados Salumã, são um grupo indígena brasileiro cuja língua é da família Aruak.[1] Os cerca de 560 indivíduos vivem em uma única aldeia às margens do rio Iquê, afluente do Juruena, no estado de Mato Grosso, mais precisamente na Área Indígena Enawenê Nawê, de 742 mil ha e que é apenas parte de seu território original. Seu primeiro contato com os brancos foi em 1974.
Os Enawenê-nawê falam a língua de mesmo nome, da família aruaque e similar à língua falada pelo povo Paresi.[5] Por meio da Operação Amazônia Nativa (OPAN), eles chegaram a ser alfabetizados em sua língua materna, até que em 2009, solicitaram a alfabetização em língua portuguesa e a formação de agentes de saúde.[2]

A terra indígena dos Enawenê-nawê localiza-se entre os municípios de JuínaComodoro e Sapezal, na região noroeste do estado de Mato Grosso, no vale de um afluente do Tapajós, o rio Juruena. Juína é o centro urbano mais próximo. A partir de lá, chega-se à aldeia percorrendo-se 60 quilômetros de estrada de terra e 200 quilômetros de barco.[2]
A partir da década de 1980, suas aldeias passaram a se concentrar nos arredores do rio Iquê, cujas nascentes chegam até a cidade de Vilhena, em Rondônia, e faz parte da bacia do Juruena. Os rios que fazem parte do território pertencem à bacia do Juruena, com exceção do rio Aripuanã, que nasce naquela terra indígena e compõe a bacia do Madeira. Seus limites estendem-se do Doze de Outubro e Camararé ao sudoeste, às nascentes da sub-bacia do Aripuanã ao noroeste, as nascentes do Rio Preto e Juína Mirim ao norte e nordeste, e como limite sudeste o Papagaio e o próprio Alto Juruena em sua confluência com o Juína. Seus vizinhos mais próximos são os povos MenkyNambikwaraRikbaktsaIranxe e Cinta Larga. A região tem vegetação de transição entre cerrado efloresta equatorial.
A ocupação do vale do Juruena foi definida principalmente por três fatores: a guerra, a agricultura e a pesca. As fugas e ataques, e a busca pelo melhor aproveitamento das terras e das águas motivaram os deslocamentos em seu território, cuja ocupação estima-se em mais de 150 anos.[6]
Inicialmente, os Enawenê-nawê habitaram a região conhecida como Serra do Norte, na confluência das cabeceiras dos rios Aripuanã, Preto e Arimena, onde construíram dezenas de aldeias, barragens e acampamentos. Deslocaram-se de lá nos anos 1940, em resposta aos frequentes ataques dos Rikbaktsa e principalmente dos Cinta-Larga, mas nunca deixaram de frequentar o local, principal fonte dojenipapo (dana) utilizado para pintura corporal no ritual Iyaõkwa. Por isso, esta região é por eles denominada Danakwa (jenipapal).
É também um local de importância religiosa, considerado morada dos espíritos subterrâneos (yakairiti), a quem a tribo dedica a maior parte de seu ciclo anual de ritos.
Fugindo de seus inimigos, deslocaram-se para o sul, mas não conseguiram estabelecer-se nas margens do Juruena, ocupadas pelos mesmos povos que o atacavam ao norte. Nos anos 1950, chegaram às margens do Iquê, de onde expulsaram os Nambikwara e de onde foram novamente expulsos, alguns anos depois, pelos conhecidos Cinta-Larga. Continuaram deslocando-se pelo rio Camararé, até se estabelecerem nas proximidades de um pequeno afluente, o rio Primavera, dentro do território nambikwara. Lá permaneceram até os anos 1980, quando migraram de volta para o Iquê, onde permanecem até 2012.
A demarcação da terra indígena Enawenê Nawê excluiu áreas como a das cabeceiras do rio Preto, antes que estudos mais detalhados revelassem sua importância para aquele povo, e baseou-se nas informações disponíveis nos primeiros contatos, quando o povo encontrava-se em migração, ocupando território nambiquara, e sua utilização territorial encontrava-se bastante reduzida em função da ameaça inimiga. Somente após o fim dos ataques, o povo Enawenê Nawê retomou suas atividades e ritos tradicionais, e buscou reocupar os territórios originais. Por isso, a terra indígena demarcada encontra-se em processo de estudo para revisão de seus limites.
Os primeiros brancos a mencionarem a existência do povo Enawenê-nawê foram seringueiros que trabalhavam na região, e que reportaram a missionários jesuítas em 1962. Diziam eles que aquele povo tinha temperamento pacífico, pois não hostilizavam os trabalhadores, embora bloqueassem os córregos para impedir a passagem dos brancos às suas moradias.[7]
Em setembro de 1973, o grupo de missionários da Missão Anchieta da Operação Amazônia Nativa (OPAN) realizou um sobrevoo nas margens do alto rio Juruena, em território dos Nambikwara, onde observaram a existência de uma aldeia. No ano seguinte, os missionários retornaram acompanhados de índios Nambikwara para tentar estabelecer contato. No entanto, ao chegarem a uma pequena aldeia de caça, identificaram elementos que os distinguiam daquele povo: o hábito de dormirem em redes e a amarração de penas das flechas, bem ao estilo dos Rikbaktsa. Uma nova expedição foi planejada, desta vez com a companhia de índios Rikbaktsa. A equipe, coordenada pelos jesuítas Vicente Cañas e Tomáz de Aquino Lisboa,[3] chegou à aldeia, de onde os índios fugiram para a floresta. Um único índio, com deficiência fisíca, não conseguiu fugir. Os missionários e índios da expedição deitaram seus facões e machados aos pés do único índio no pátio da aldeia, em sinal de amizade. Identificaram que tratava-se de um povo da família Aruaque, pelo estilo das malocas, a casa das flautas e seu sotaque.[7]
O grupo deixou a aldeia e decidiu passar a noite nas proximidades e retornar à aldeia no dia seguinte. Entretanto, foram três índios locais, armados com arcos e flechas, que visitaram o acampamento pela manhã, e levaram os visitantes até a aldeia vazia, enquanto o restante da tribo escondia-se na floresta. Ofereceram-lhes alimento e trouxeram alguns outros índios locais para estabelecer contato, dando início à aproximação com os brancos.[7]
Naquela época, a Missão Anchieta revia seu tradicional método de atrair e civilizar populações indígenas a partir da educação. A aproximação com os Enawenê Nawê seguiu uma nova abordagem, com o objetivo de mantê-los isolados da sociedade e realizar aproximações mais lentas, com um mínimo de interferência e concentrando suas atividades no atendimento à saúde e na proteção do território. As enfermeiras que mais tarde viriam a trabalhar na aldeia chegaram a se instalar em casas comunais e aprender a língua local. Alguns poucos instrumentos de ferro foram introduzidos, como o facão, o anzol e o machado, mas procurou-se reduzir ao máximo a dependência de bens industrializados.[3]
Essa nova postura evitou o surgimento das epidemias comuns entre grupos indígenas após o contato, bem como seus efeitos deletérios. O que ocorreu foi um notável crescimento demográfico, aliado à manutenção do modo de vida tradicional, incluindo seus ritos e seu idioma.[3]
Durante os anos 1990, os contatos com os brancos se intensificaram, especialmente em virtude das tentativas de construção de estradas em seu território. Posteriormente, a instalação de hidroelétricas também impulsionou os contatos e pode ter influenciado sua recente decisão pela alfabetização em língua portuguesa.[2]
Na época dos primeiros contatos com os brancos, os Enawenê-nawê totalizavam cerca de 130 indivíduos. A população cresceu bastante de 1974 até a primeira década dos anos 2000, e nos últimos anos, o ritmo desse crescimento tem-se intensificado. Em meados de 1996, passados 22 anos dos primeiros contatos com os missionários, os Enawenê-nawê haviam dobrado sua população, reunindo 260 indivíduos. De 1992 a 2006, passaram de 216 para 435 indivíduos. A população dobrou em 22 anos e depois dobrou novamente em apenas 14 anos. O resultado é que o contingente populacional enawenê-nawê, em 2006, é bem mais jovem que nos anos 1970. As crianças (dinwá) somam quase dois terços da população, o que pode trazer reflexos na capacidade reprodutiva desse povo.[8]
  1.  Enawenê-nawê (em português)Povos Indígenas no Brasil. Instituto Sócio-Ambiental. Página visitada em 9 de junho de 2012.
  2. ↑ a b c d FERNANDES, Sérgio Luiz (15 de junho de 2010). Etnia indígena de MT irá iniciar processo de alfabetização em língua portuguesa (em português). Mato Grosso. Secretaria de Educação. Página visitada em 9 de junho de 2012.
  3. ↑ a b c d Enawenê Nawê (em português). Arara. Página visitada em 9 de junho de 2012.
  4.  LISBOA, Thomaz de Aquino (1985). Enawenê-nawê - Nome (em português)Povos Indígenas no Brasil. Instituto Sócio-Ambiental. Página visitada em 9 de junho de 2012.
  5.  ZORTHÊA, Katia Silene (2006). Enawenê-nawê - Língua (em português)Povos Indígenas no Brasil. Instituto Sócio-Ambiental. Página visitada em 9 de junho de 2012.
  6.  RODGERS, Ana Paula Lima (2010). Enawenê-nawê - Localização (em português)Povos Indígenas no Brasil. Instituto Sócio-Ambiental. Página visitada em 9 de junho de 2012.
  7. ↑ a b c LISBÔA, Thomaz de Aquino (1974). Enawenê-nawê - História do contato (em português)Povos Indígenas no Brasil. Instituto Sócio-Ambiental. Página visitada em 9 de junho de 2012.
  8.  SILVA, Márcio (2006). Enawenê-nawê - População (em português)Povos Indígenas no Brasil. Instituto Sócio-Ambiental. Página visitada em 9 de junho de 2012.



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